Viver na maior crise sanitária do século XXI, lidar com o novo normal estabelecido e tentar não surtar, esses são alguns de nossos desafios diários. Agora, como é para uma criança estar vivendo nesse momento tão delicado? Como a arte pode tornar as coisas mais fáceis? Qual nosso papel nessa relação criança, pandemia e arte?
Há pouco mais de um ano, as nossas vidas mudaram drasticamente. Nós elaboramos um novo vocabulário, o qual hoje é quase impossível não conversar com alguém sem utilizar palavras como: lockdown, home office, quarentena e dor nas costas. Além disso, papais e mamães comentam o quão difícil é lidar com as crianças que vivem presas, trancadas, em cárcere fechado, nas suas casas...
Mas, e a arte? Ela pode minimizar os efeitos da pandemia na vida de nossas crianças? A resposta é sim... e não.
Eu explico: agora que a criança passa mais tempo em casa, nós ampliamos o acesso delas aos aparelhos eletrônicos, logo, elas podem assistir filmes animados, ver videoclipes de artistas infantis e mais uma infinidade de coisas que a internet possibilita. Desta forma, a relação com a tecnologia promove uma aproximação da criança com a arte, ao mesmo tempo que a afasta. É algo ambíguo, mas é a realidade. Muitos dos conteúdos disponíveis na internet não apresentam refinamento estético-simbólico, apenas são vídeos que, na soma geral de seus conteúdos, é atrair o desejo infantil por determinadas mercadorias.
É fundamental que os responsáveis façam filtros, acompanhem as abas que seus filhos abrem e comentem sua visão sobre os conteúdos para a criança. Assim, desde a primeira infância, o adulto deve questionar a criança sobre as coisas que ela gosta e em seguida, indicar e introduzir animações que apresentem temáticas sociais pertinentes, como por exemplo o curta-metragem animado “Hairspray”, que mostra a trajetória de uma menina tentando aceitar seu cabelo da forma que é.
Após a apresentação de conteúdos variados é extremamente necessário que o responsável assista, comente e emita questionamentos. A presença do adulto é um fator simbólico que possibilita uma visão mais ampla para criança sobre o que ela está consumindo.
Porém, a arte para as crianças não é apenas assistir desenhos e ouvir músicas. É preciso compreender que a criança possui um tempo muito particular, um corpo que vibra e uma visão de mundo em construção, logo, eles não vão ficar horas e horas satisfeitos em ver as mesmas coisas, eles querem brincar, criar e imaginar. É nessa hora que o adulto precisa mais ainda se aproximar de seu filho. Depois de um bom filme, que tal representar os personagens com a criança? Criar novas histórias usando o corpo, a voz e mente? Essa é a ferramenta mais poderosa em tempos difíceis. Um adulto que não apenas brinca com o filho, mas constrói um jogo dramático, é um adulto que cria uma nova realidade. E se hoje você tirasse um tempo para fazer de sua casa um castelo? Seu filho (a) ser um personagem novo que ele nunca imaginou antes?
Nós adultos podemos nutrir a imaginação das crianças de diferentes formas, só precisamos de energia para atuarmos ao lado delas em realidades inventadas, pois é quando a arte reverbera da mente para o corpo, que seu significado fica mais claro.
Por mais famílias que digam “tá fazendo arte, né?!”
Victor Emanuel Carlim é professor de teatro, pesquisador, diretor e ator. Mestre em Artes pela UNESPAR Campus II FAP e Formado em Licenciatura em Teatro pela mesma universidade.
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